O
Conselho Nacional dos Procuradores-Gerais do Ministério Público dos
Estados e da União (CNPG) e o Grupo Nacional de Combate às
Organizações Criminosas (GNCOC), vêm a público manifestar repúdio
às declarações do Ministro Gilmar Mendes, em sessão de julgamento
da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, realizada no dia de
ontem, 8 de agosto de 2017, por meio das quais fez generalizadas
críticas às importantes atividades de investigação realizadas
pelos Grupos de Atuação Especial de Combate às Organizações
Criminosas (GAECO), órgãos de investigação do Ministério Público
brasileiro.
Os
GAECOs são órgãos de operacionalização de atividades
investigatórias criminais da estrutura dos Ministérios Públicos,
criados com a finalidade de promover a investigação e a repressão
do crime organizado, da macrocriminalidade e dos crimes de maior
complexidade e relevância social, formados por integrantes de
diversos órgãos de investigação (delegados de polícia, policiais
civis e militares, policiais rodoviários federais e estaduais,
auditores das receitas federal e estadual, dentre outros).
A
atuação desses órgãos observa rigorosamente a Constituição da
República e as leis, e todas as interceptações telefônicas são
precedidas de autorização do Poder Judiciário, tratando-se de
importante conquista do Estado Democrático de Direito brasileiro,
cuja legitimidade do Ministério Público para realizar atividade
investigatória criminal foi reconhecida pelo próprio Supremo
Tribunal Federal, em sede de Repercussão Geral, nos autos do RE n.
593.727/MG.
Ao
contrário do afirmado pelo Ministro Gilmar Mendes, não há
"escândalo" envolvendo a atuação dos GAECOs no nosso
País. A atuação dos desses órgãos de combate ao crime organizado
possui destacada visibilidade em razão dos inúmeros resultados
obtidos, os quais são amplamente divulgados pela mídia nacional e
reconhecidos pela sociedade brasileira.
A
imputação genérica de suposta atuação ilícita dos GAECOs, cuja
gravidade pressupõe regular apuração, em sessão de julgamento da
Suprema Corte, consubstancia grave ataque ao importante papel
desempenhado pelo Ministério Público e pelos demais órgãos de
investigação na construção de um novo paradigma de justiça
social.
Por
tais razões, o CNPG e o GNCOC reafirmam o repúdio à inapropriada
manifestação do Ministro Gilmar Mendes, ao tempo em que prestam
irrestrita solidariedade a todos os Membros do Ministério Público
brasileiro e aos demais integrantes dos GAECOs, os quais, no estrito
cumprimento de sua missão constitucional, fortalecem a atuação
integrada de órgãos de segurança no combate à corrupção e ao
crime organizado, merecendo, por isso, o apoio de todos os
Procuradores-Gerais do Ministério Público brasileiro.
O
CNPG e o GNCOC, na defesa dos mais legítimos interesses
republicanos, esperam que o Ministro Gilmar Mendes, diante do
disposto no art. 40 do Código de Processo Penal, remeta aos órgãos
de controle provas ou elementos indiciários a respeito dos fatos
relatados em sua manifestação, a fim de que se possam adotar,
segundo os parâmetros do Estado de Direito, todas as providências
cabíveis à regular apuração da veracidade dos fatos, com
transparência e responsabilidade.
Por
fim, lamenta-se que essas declarações surjam num importante momento
de afirmação da democracia brasileira, justamente quando as ações
do Ministério Público e dos órgãos de investigação atingem
certos segmentos da sociedade que não estavam acostumados a serem
demandados.
Brasília,
9 de agosto de 2017.
Sandro
José Neis
Procurador-Geral
de Justiça/MPSC
Presidente do CNPG
Plácido
Barroso Rios
Procurador-Geral
de Justiça/MPCE
Presidente do CNCOC
Fonte: CNPG